A capa da fita cassete era meio verde com ela cantando diante do microfone. Foi naquela ocasião que conheci Elis Regina.
Madson Moraes©Reprodução

Depois - acho que minha memória prega-me peças agora, mas é a que tenho - veio ela cantando "Como nossos pais" (gravada em 1976 no Lp Falso Brilhante) e, dali em diante, virei ouvinte assíduo. "Respeitem a maior cantora desta terra", bradou Caetano Veloso lá pelos idos de 1973. Elis não era apenas a Música Popular Brasileira: era bluseira, rockeira e acredito que nem sabia que carregava tudo isso nas cordas vocais. Inclusive, começou cantando pop-rock juvenil lá no sul do país. Logo ela que, anos depois, encabeçou a tal "Passeata Contra as Guitarras" numa tentativa de defender a "tradição" da música brasileira.
A "Pimentinha", apelido dado pelo poeta Vinicius de Moraes, morreu aos 36 anos em 1982, ano em que eu nem era nascido, ano em que o país ainda vivia sob o regime dos generais fardados. No tempo em que a mulher está no centro de tudo, de presidenta a enigma para os cientistas, vejo uma Elis Regina celebrizada, libertária e inconformada - se estivesse viva. Além de pioneira na vendagem de discos - vendeu um milhão de cópias com Dois na Bossa, gravado com Jair Rodrigues em 1969, feito que até então nenhum artista brasileiro tinha alcançado, foi celebrizada ao vencer o primeiro Festival de Música Brasileira em 1965, quando defendeu "Arrastão" (música de Edu Lobo e Vinicius de Moraes). Tudo isso e muito mais está no livro "Furacão Elis" (Editora Leya), uma reedição da biografia lançada em 1985 pela jornalista Regina Echeverria.
Este relato memorialístico não pretende análise alguma, apenas manifesta uma saudade de uma recordação. O fato é que não encontro, após 30 anos da sua morte, nenhuma cantora com capacidade para provocar e explodir com sua voz, com talento para incorporar, quase no aspecto mediúnico da palavra, a sensibilidade da interpretação e emoção e ainda conseguir voltar ao estado normal. A frase "Sempre vou viver como camicaze. É isso que me faz ficar em pé" retrata bem a personalidade vocal de Elis e a entrega absoluta (ou absurda) para a música, nisso de destruir ao máximo a sensibilidade e, em troca, nos entregar uma emoção.
Fonte: Tempo de Mulher
Postado por Cristina Rastafári
Nenhum comentário:
Postar um comentário